APRESSA-TE DEVAGAR
por Bruna Fetter

Desde um ateliê rodeado de janelas em três de suas quatro faces, Lilian Maus habita a paisagem, permitindo que ela adentre seu espaço de trabalho. Esse posto de observação localizado na cidade de Osório, litoral norte do Rio Grande do Sul, é invadido pelo Morro da Borússia, resquício de Mata Atlântica, de onde se enxergam algumas das 23 lagoas da região e os gigantes moinhos contemporâneos que tentam represar a fúria dos ventos locais em outros fluxos de energia.

Em Expedições pela Paragem das Conchas Lilian Maus cria um atlas afetivo de uma paisagem que foi sendo experienciada e compreendida através de camadas de memória da infância, somadas à novas experiências e re-descobertas desse lugar. Uma relação permitida no tempo alargado de uma pesquisa de Doutorado, mas também na entrega a esse território único e particular. Território, como postula Deleuze, como lugar de realização da arte, demarcado por seus habitantes nas suas posturas, sons e cores, que se transformam em linhas, desenhadas por seus movimentos.

Nessa percurso, aranhas, borboletas, pescadores, Rimbaud, documentos históricos, pudicas mimosas, paisagens de Debret, audiências públicas, biólogos, águas e ventos compõem uma cosmologia particular, na qual dados de catalogação científica de plantas se mesclam – sem distinção – com nomenclaturas de tipos de mar e poesia. “O que aparece como título de cada figura não é a sua definição, é o seu argumento: Argumentum: ‘exposição, narrativa, sumário, pequeno drama, história inventada’”. No trabalho de Lilian, a palavra também povoa, exalando odores e cores, deixando rastros no papel que descortinam algumas de suas referências estéticas e conceituais.

 


*Excertos do texto Apressa-te devagar, de Bruna Fetter (IA/UFRGS), 2016

Mostra Expedição pela Paragem das Conchas (veja mais imagens)
Crédito das imagens: Fábio Alt

Livro de Artista (Azulejo Arte Impressa)
Inventário da Fauna e Flora (revista Climacom UniCamp)